O diagnóstico de câncer costuma desencadear nos pacientes uma reflexão sobre o futuro, ocasionando muitas vezes, questionamentos sobre as incertezas acerca dos meses posteriores ao diagnóstico. Algumas pessoas temem as mudanças na rotina pessoal e profissional, outros sentem que podem gerar uma crise de instabilidade financeira na família e há aqueles que já antecipam os pensamentos sobre os possíveis efeitos do tratamento. O desconhecimento sobre os diferentes tratamentos disponíveis atualmente, aliado a mitos e crenças errôneas sobre o câncer, geram ainda mais ansiedade e angústia no paciente recém-diagnosticado.
Inicialmente, a grande maioria dos pacientes recém-diagnosticados precisarão de um tempo para entender, de fato, o que está acontecendo em suas vidas. Esse período pode ser muito particular (dedicado à reflexão sobre questões existenciais e readaptação da rotina pessoal) ou compartilhado com os familiares. Entretanto, a maioria dos pacientes tem benefícios ao compartilhar esse momento com familiares e amigos. Confirmando esse fato, os resultados de um estudo realizado por pesquisadores da University Medical Center de Leipzig, na Alemanha, demonstraram que muitos pacientes com câncer se sentem isolados após a doença. E, por isso, os prestadores de cuidados devem manter-se atentos, especialmente, aos pacientes que necessitam de mais apoio social. É essencial melhorar a qualidade das interações dos pacientes, reforçando aquelas que forem positivas e diminuindo as interações negativas.
Por outro lado, o medo desencadeado com o diagnóstico pode expressar-se de diversas formas. Costuma-se relacionar esse sentimento com as experiências anteriores do paciente. Neste contexto, pesquisadores da Universidade College London publicaram uma revisão sistemática com meta-análise concluindo que o “medo do câncer emanava de uma visão central do câncer como um inimigo cruel, imprevisível e indestrutível, evocando temores sobre sua proximidade, a (falta de) estratégias para mantê-lo sob controle”. Mas, apesar desta crença de que o câncer é “indestrutível”, sabe-se que atualmente, por meio dos avanços na medicina, em grande parte, o câncer é tratável e curável.
Portanto, há de se destacar a importância da obtenção do conhecimento adequado sobre o tipo específico de câncer de cada paciente. Já que, apesar da terminologia comum, a palavra câncer é o nome dado ao conjunto de mais de 100 doenças, que tem em comum o crescimento desordenado de células. Ademais, essa diferenciação ocorre até mesmo entre tipos de cânceres semelhantes. O câncer de mama, por exemplo, que é o tipo de tumor mais comum em mulheres brasileiras, também não é considerado uma única doença. Pelo contrário: esse tipo de câncer apresenta a similaridade de origem, na mama, mas apresenta diferenças importantes que o classificam em subgrupos. Sendo assim, é essencial que o paciente procure compreender especificadamente sobre o seu tipo de câncer.
Finalmente, após compreender o tratamento, é necessário ressignificar o modo que o paciente acometido pelo câncer enfrenta a situação. É importante mantê-lo focado naquilo que é passível de controle ao invés do direcionamento dos pensamentos em experiências que não podem ser alteradas. Baixos níveis de empoderamento, por exemplo, foram associados a menor autonomia e suporte social, além de dificuldades de enfrentamento do câncer. Desta forma, identificar quais pacientes possuem maior dificuldade em enfrentar a situação e inseri-los em programas de desenvolvimento humano (como, por exemplo, os processos que visam o aumento de resiliência e motivação no alcance dos objetivos), poderiam auxiliar na construção de uma melhor qualidade de vida relacionada à saúde, durante e após o término do tratamento oncológico.
Para saber mais:
Câncer: sintomas, causas, tipos e tratamentos https://saude.gov.br/saude-de-a-z/cancer
KAAL, Suzanne E.J. et al. Empowerment in adolescents and young adults with cancer: Relationship with health-related quality of life. Cancer v. 123, n. 20, p. 4039–4047, 2017. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28696580/
LEUTERITZ, Katja et al. Life satisfaction in young adults with cancer and the role of sociodemographic, medical, and psychosocial factors: Results of a longitudinal study. Cancer v. 124, n. 22, p. 4374–4382, 2018. http://doi.wiley.com/10.1002/cncr.31659
VRINTEN, Charlotte et al. What do people fear about cancer? A systematic review and meta-synthesis of cancer fears in the general population. Psycho-Oncology, 2017.
/pmc/articles/PMC5573953/?report=abstract